Saturday, January 05, 2008

estados alterados da mente...

muito antes do conceito de raves e a música eletrônica se tornarem algo corriqueiro ao vocabulário de milhares de jovens no mundo inteiro - quem que não tem um amigo/conhecido frequentador do carnaval rentável que se tornou o gênero nos últimos anos? - os principais lançamentos da eletrônica vinham amarrados por um conceito. algo que começou (inevitavelmente) por influência do progressivo, em álbuns como 'trans-europe express' e 'man machine' ,ambos do kraftwerk , e que continuou mesmo em lançamentos do quilate de um 'music for jilted generation' (1995), do prodigy, que retratava, por trás do baticum sintético, o clima de perseguição e confronto entre a polícia , governo inglês e os 'crusties' - como eram conhecidos os frequentadores das festas realizadas em fazendas ou grandes warehouses. alguns dos álbuns e artistas lançados na 'era de ouro' da eletrônica - fim da década de 80 até meados dos anos 90- são lembrados até hoje. outros injustamente esquecidos pelo tempo...

ouriundos de manchester, cidade que já tinha dado ao mundo tesouros da cultura pop como smiths, joy division -new order , e posteriormente stone roses, happy mondays e oasis , o 808 state é um desses casos. formado em 1987 pelo produtor martin price (responsável por todo o 'conceito' e visual do grupo) , pelos djs andrew barker e darren partington mais o músico graham massey, cabeça da formação e ex-membro da banda de funk industrial biting tongues - que chegou a gravar um ábum pelo lendário selo factory, gravadora da maior parte de todos os álbuns do new order - foi a primeira banda da chamada dance music da época a lançar álbuns com uma certa regularidade, a ter uma carreira fonográfica , isto numa época em que a maior parte da produção da época no gênero baseava-se quase que totalmente em singles e compactos para a pista.

ao contrário da principal inspiração de seu nome - 808 era o nome do principal kit de bateria eletrônica usado nas produções de acid house da época , fabricado pela roland - o som do grupo não era necessariamente para dançar. tinha seus momentos de euforia , mas estava mais ligado a um clima pré chill-out ou ,como gostava de definir price, 'música para baixar a bola, um som para quando o sol está saindo e a viagem está chegando ao final'. na época , o som deles chegou a ser rotulado como ambient house, anos antes da adoção do trance pelos frequentadores de raves e djs no mundo inteiro.

isto pode ser comprovado ouvindo seus dois primeiros álbuns, newbuild e quadrastate, ambos de 1988 - provalelmente o marco-zero da produção eletrônica inglesa , apesar da evidente inspiração no techno de detroit , sintético e escuro - e sobretudo no terceiro , 90 ,em que hits de pista como 'cubik' e o hino sentimental de sua geração, 'pacific state' , onde uma linha de sintetizador de quatro acordes é levada magistralmente por um solo de saxofone lindíssimo, convivem com maior equilibrio. ouvido hoje em dia , ao contrário de muitos lançamentos da época , passa longe de soar datado. não por acaso , foi seu álbum de maior sucesso comercial e é considerado o melhor trabalho deles.

posteriormente lançaram outros álbuns e colaboraram com gente do quilate de bjork e UB40 , embora conseguissem bons momentos nunca mais tiveram o mesmo êxito , nem artístico nem comercial. chegaram a tocar por aqui em 1995 , no free jazz ,logo após foram se fragmentando ao longo dos anos... hoje em dia são apenas história , que merece ser lembrada ,pois são parte fundamental do som eletrônico que conhecemos atualmente.